“Há pessoas desagradáveis apesar das suas qualidades e outras encantadoras apesar dos seus defeitos.” François La Rochefoucauld
Ao longo da minha vida ouço as pessoas, e eu por extensão, comentarem sobre os “defeitos” e, por vezes, das “qualidades” de outras pessoas. Algumas tomavam para si, até com certo orgulho, seus próprios defeitos. Meio louco isso!
Mas com o avançar dos anos, a infância foi ficando para trás, os dezoito, os vinte, os trinta e agora na casa dos quarenta anos, vejo de forma engraçada tudo isso. Quer dizer, mais ou menos, vou me expressar assim: “Minhas maiores qualidades podem ser meus maiores defeitos, e meus maiores defeitos podem ser minhas maiores qualidades.”. Acho que agora ficou 3/4 louco…
Quando jovem, me julgava muito teimoso, e gostava disso… Mas não entendia que meu apego as minhas ideias, planos, metas, enfim a tudo isso, não passava de desperdício de energia, quando tentava a mesma coisa, do mesmo jeito, querendo resultados diferentes. Mas quando entendi que não desistir de uma ideia, mas executá-la de outra forma quando uma não deu certo, era o mais sensato, assim o que era minha teimosia se tornou persistência, defeito x qualidade…
Expandindo um pouco os conceitos
Qualidade pode ser a característica particular de algo ou alguém, natureza ou condição, classe ou modelo; na filosofia pode ser a essência, o modo de ser de um indivíduo, e por aí vai. Um conhecido meu e que foi professor do Sebrae nessa área, me definiu qualidade como satisfação do cliente em relação a um produto ou serviço prometido e prestado. Se me permitem a ousadia, vou estender essa definição para fora do mundo corporativo e profissional, talvez qualidade seja isso mesmo, as expectativas que outrem cria sobre nós e, que nem sempre sabendo, atendemos…
Defeito pode ser a imperfeição física ou moral, deformidade, mau funcionamento, falha, na filosofia li sobre a Eudaimonia, um conceito que pode ser traduzido como o bem-estar, a harmonia, a conformidade de tudo que existe com o Cosmo, em contrapartida há o termo Húbris ou Hybris, que se refere ao exagero, ao excesso, ao feio, ao torto, ao desvirtuoso, ao que peca – em geral contra os deuses gregos, que vou traduzir também como defeito.
“Procura nos outros as qualidades que eles possam ter; em ti, procura os defeitos que certamente tens.” Benjamin Franklin
Outra forma que vejo o tema é o uso dos rótulos, normalmente observo quando pergunto a alguém se prefere esse ou aquele, em especial quando esse alguém não gosta de nenhuma das opções, de pronto ouço “nenhum”, então insisto esse ou aquele, e depois de insistir mais um pouco, traduzindo “preferir” diferente de “gostar“, tenho uma resposta… Ou seja, na maioria das vezes há uma observação rasa sobre as coisas, por consequência a vida e as pessoas, condicionadas ao longo da vida na simplificação dos rótulos.
Problematizo agora a seguinte condição: ajudo mais apontando os defeitos de alguém ou filtrando eles (os defeitos) e apontando as qualidades que certamente têm, se olhadas com maviosas lentes?
“Quantos defeitos sanados com o tempo, eram o melhor que havia em você.” A lista, Oswaldo Montenegro.